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terça-feira, 8 de abril de 2008

Língua portuguesa e mercado de trabalho

Apenas um em cada quatro brasileiros consegue compreender totalmente as informações contidas em um texto e relacioná-las com outros dados.

Considere os seguintes textos:
• Em resposta à pergunta: “Comente como é a comunidade em que você mora?”, um adolescente com idade entre 14 e 15 anos, cursando o ensino fundamental, escreveu: Cuaã taugibba madade pcai Daintaiz caní catatneana iuguvaí adunvain zugtcauní lavagua qtingma.”
• Com base no ditado: No dia 22 de abril, comemoramos os 500 anos de nosso Brasil, que é uma terra maravilhosa.”, um aluno da 4ª série escreveu: “No dina vit do de abinu de doni comekcina do no ba basinu terã mlazsa.”
• Com base no tema da redação Internauta de um processo seletivo de uma faculdade particular de São Paulo, um candidato escreveu o seguinte: “É interessante muitas pessoas como internautas falam sobre a Internet sem perceber quando o tempo passa, porque isso a Internet realmente praticamente mais fácil de acessar das informações ilimitadas às nossa.”
Esses excertos, publicados em jornais e revistas, comprovam dois fatos: primeiro, corroboram os dados de uma pesquisa acerca da redação e leitura; segundo, atestam, por conseguinte, o retumbante fracasso do ensino de português.
A pesquisa foi publicada em setembro do ano passado pelo Ibope e mostra que apenas 25% dos brasileiros com mais de 15 anos têm pleno domínio das habilidades de leitura e escrita. Isso significa que um em cada quatro brasileiros consegue compreender totalmente as informações contidas em um texto e relacioná-las com outros dados. Ainda segundo o levantamento, 38% dos brasileiros podem ser considerados analfabetos funcionais. Desses, 8% são analfabetos absolutos. Os outros 30% só conseguem identificar enunciados simples, mas não são capazes de interpretar um texto mais longo ou com alguma complexidade. E mais: no Brasil, 60% da população não tem sequer o ensino básico completo.
Fica muito claro, pela pesquisa: o nosso ensino de português, ao contrário de proporcionar aos alunos o acesso à língua-padrão, tem produzido pessoas que mal sabem concatenar as idéias, que mal sabem se expressar por escrito. O fracasso se torna visível quando uma pessoa não sabe sequer preencher uma ficha de emprego.
Diante dessa calamidade, falar e escrever bem tornou-se uma obrigação, até um meio de sobrevivência no mundo do trabalho, pois as empresas ao contratar funcionários estão a exigir, além do conhecimento de uma língua estrangeira e de informática, o domínio da língua portuguesa, habilidade que, conforme uma publicação recente, está entre as sete para ter sucesso no mercado de trabalho.
Aliás, exigência interessante, que evidência que o nosso ensino de português não tem conseguido sequer transmitir o mínimo indispensável para que a pessoa consiga sobreviver na sociedade. Como querer reformar pessoas livres, se a própria língua é um instrumento que as escraviza?

“Não agüento mais depor
nem um tijolo a mais
na minha torre,
e já esqueci as línguas
dos outros homens.
Quem me dera
não perder a minha
própria língua!...
(João Guimarães Rosa)

Em duplas ou trios:
- Faça um comentário crítico da situação que o texto expõe. Relacione o tema “Língua portuguesa e mercado de trabalho” com o poema de João Guimarães Rosa

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